Conheça: Catedral São Francisco das Chagas de Taubaté

Está postagem passou por revisão e ampliação em 2025

História:

A Catedral de Taubaté: Da Capela à Imponente Igreja Atual

A atual catedral de Taubaté já foi a antiga igreja matriz da cidade. O que começou como uma pequena capela transformou-se, ao longo dos séculos, na imponente igreja que conhecemos hoje. Sua construção passou por diversas reformas, que modificaram profundamente tanto sua fachada quanto seu interior.

Erguida por volta de 1645, a igreja original correspondia ao que hoje é a Capela do Santíssimo Sacramento, localizada à direita da nave principal. Com o passar do tempo, percebeu-se que a capela era pequena demais para acomodar a população crescente. Assim, decidiu-se pela construção de uma nova nave, perpendicular à antiga capela, ampliando significativamente o espaço.

Em 1800, a igreja foi expandida para as proporções que mantém até hoje, recebendo sua primeira fachada, de estilo barroco, simples e com poucos ornamentos. Já por volta da virada do século XX, a fachada foi reformada e ganhou um visual mais elaborado, seguindo o estilo eclético, com influências de diferentes correntes arquitetônicas. Por fim, em 1940, a igreja passou por uma nova reforma, que lhe conferiu o estilo atual.


fonte: Site Catedral


Primeira Fachada:

A nova estrutura, erguida por volta de 1800, seguia o típico estilo colonial brasileiro. Suas linhas eram sóbrias, mas já apresentavam formas e proporções que permanecem até os dias de hoje.

A fachada era marcada por um frontão triangular, onde se destacava uma janela circular e o que parece ser o símbolo franciscano clássico: a cruz com os braços de Cristo e de São Francisco se cruzando. As duas torres laterais eram coroadas por cúpulas, cercadas por ornamentos semelhantes a pequenos obeliscos — um desenho que, com algumas modificações, ainda está presente na estrutura atual. A principal diferença é que, hoje, as cúpulas são revestidas com azulejos.

Observam-se ainda cinco janelas na fachada: três centrais, provavelmente voltadas para o coro da nave principal, e duas nas extremidades, que possivelmente correspondiam a janelas de corredores superiores que davam acesso às torres.







Pensando em trazer mais próximo dos nossos dias, solicitei ao Gemini do Google que colorisse a foto de modo a nos ajudar a ver como provavelmente era a Igreja Matriz de Taubaté nos anos de 1865



Existe pouca documentação fotográfica dessa fachada, pelo fato de que câmeras fotográficas eram raridades nesta época.

Segunda Fachada e Interior:


Na ocasião em que o Papa Pio X instituiu a Diocese de Taubaté, em 7 de junho de 1908, a antiga igreja matriz foi elevada à condição de catedral. Seu primeiro bispo foi Dom Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, figura tão importante para a cidade que hoje dá nome à praça onde a catedral está localizada.

Por volta das primeiras décadas do século XX, a igreja passou por uma significativa reforma, com atenção especial à sua fachada.

O antigo frontão triangular deu lugar a uma estrutura mais ornamentada, com colunas, arabescos, um nicho com a imagem de São Francisco das Chagas e um relógio circular. Os contornos das quinas da igreja, que já existiam, foram mantidos e passaram a ser mais trabalhados. Onde antes havia superfícies lisas, foram aplicados novos elementos decorativos em alto-relevo, enriquecendo ainda mais a fachada.

As portas e janelas coloniais foram substituídas por aberturas em arco ogival, típicas da arquitetura gótica, marcando a transição do antigo templo colonial para um edifício mais requintado e eclético — estilo que mescla influências de diferentes correntes arquitetônicas.

A Catedral de Taubaté acompanhou, ao longo do tempo, as transformações do espaço urbano: de pequeno assentamento a vila colonial, de polo cafeeiro a cidade industrial, acadêmica e empresarial. Sua arquitetura reflete não apenas a fé, mas também a história e a identidade da cidade, que se me permitem a crítica, tem um costume de se destruir para reconstruir o tempo inteiro, fato esse que faz uma cidade mais antiga que Ouro Preto, Tiradentes e Mariana (sendo ela o nucleo irradiador que as fundou inclusive) não ter quase nenhuma obra que remeta a seu passado. Existe uma mentalidade muito forte do progresso pela substituição do antigo.








A nova fachada.

Aqui podemos ver como era o antigo acesso para a capela lateral da catedral, onde hoje fica localizado o Santíssimo Sacramento. Apesar da foto não registrar com muitos detalhes, ao que aparenta, a imagem do Sagrado Coração de Jesus ocupava o espaço, sendo que essa mesma imagem hoje fica do lado oposto, na outra parede.

 O altar-mor, cuja talha é a única coisa da estrutura do interior da igreja que permanece até hoje, porém com algumas modificações. Toda a parte central foi removida e no lugar uma parede com desenhor de anjos voando no céu, com o nicho da imagem de São Francisco, a mesma da foto de cima, sendo colocada mais pra cima, na mesma altura das outras imagens menores. Foi modificado também o altar, do qual foi removido e substituido por um quadrado feito de marmore.

Altar lateral com a imagem de Nossa Senhora de Pompéia, que existe até hoje na catedral. Note as marcar amarelas, provavelmente indicação de que os adornos seriam martelados a ouro.

Este altar muito provavelmente ficava onde hoje estaria o altar que se encontra a imagem de Nossa Senhora das Graças atualmente, mas aqui, apesar de confuso, é uma obra de arte espetacular: podemos ver o tipico estilo barroco da talha, mas ao centro ele se mistura com a gruta de Nossa Senhora de Lourdes que avança sobre os rigorosos desenhos barrocos e chega até a mesa do altar.

Interessante notar que a igreja parece um pouco "revirada" nessas fotos. Eu acredito - não posso afirmar - que essas fotos foram registradas antes da reforma começar, o que me leva a acreditar que existam mais delas por ai.

Interior visto do coro. Note que é bem menor que o de hoje, isso por causa dos corredores laterais que dão acesso aos púlpitos. Na última reforma da catedral esses corredores foram retirados deixando mais espaço interno, o mesmo ocorreu com o presbitério, permitindo que ele fosse também ampliado.

Perceba também como o interior pouco reflete o exterior, provavelmente ele não foi modificado nas reformas que ocorreram na fachada, tendo ainda a sua originalidade colonial, que apesar de muito bonita, não era algo muito suntuoso se comparado a igrejas da região.







 A mais clássica e famosa foto da Taubaté de antigamente, a praça da matriz com as "jardineiras" (um tipo de ônibus), os belos postes de iluminação, os casarões de excelente gosto estético...

E é claro que essa foto mereceu também uma modernizada por IA, mesmo perdendo os detalhes da original, é emocionante ver o que nós perdemos em termos de centro histórico











Terceira fachada:

Com a intenção de tornar a catedral mais ampla, uma nova reforma foi iniciada na década de 1940, sob a liderança do então bispo Dom Francisco Borja do Amaral. O principal objetivo era aumentar a capacidade interna da igreja, o que levou à remoção dos corredores laterais, típicos das igrejas coloniais, e à unificação das paredes internas e externas.

Essa intervenção resultou na perda total do estilo eclético anterior. A fachada foi redesenhada, ganhando uma tribuna acima da porta principal e adotando o estilo neocolonial — uma releitura do colonial brasileiro, aplicada fora de seu tempo original. Apesar dos apesares, a nova catedral apresenta um equilíbrio estético agradável, com sobriedade nos ornamentos e valorização dos materiais utilizados.

Entre os novos elementos, destacam-se os vitrais encomendados da Casa Conrado, de São Paulo, e as pinturas nas paredes e no teto, que retratam cenas como a Anunciação, o Nascimento de Jesus, a Crucificação e a Ressurreição

As imagens sacras foram mantidas e receberam novos nichos. Do lado direito, permanecem altares laterais em estilo tridentino, feitos em mármore. Já do lado esquerdo, foram instalados altares no estilo do Novus Ordo, algo incomum, já que o rito moderno geralmente não prevê altares laterais.

Do edifício original, restaram apenas as cúpulas das torres e parte da talha do altar-mor. O relógio da fachada também foi preservado, embora seu mostrador redondo tenha sido substituído por um de azulejos, em harmonia com o revestimento aplicado nas cúpulas.

O grande mérito dessa reforma foi dobrar a capacidade da igreja sem a necessidade de construir um novo templo. Como mencionado anteriormente, as igrejas coloniais possuíam corredores laterais que corriam por trás dos altares. Com a remoção desses espaços, foi possível ampliar a nave e o presbitério, adaptando a catedral às novas demandas da cidade em crescimento.



A reforma modificou o estilo arquitetônico externo e interno para o estilo neocolonial. Na foto é possível notar as novas janelas, porém a porta principal ainda era a antiga com o arco gótico. 



A ultima mudança que teve foi a cor dela, na foto a igreja era em tom pastel e hoje é em um tom alaranjado.
Interior da capela do pilar, local para onde foi alguns elementos da antiga catedral

Igreja Hoje:

Após tantas reformas ao longo dos séculos, a catedral de Taubaté continuou passando por modificações também no século XXI. Entre as mudanças mais visíveis, destaca-se a pintura da fachada, que abandonou o tradicional branco e passou a exibir um tom amarelo intenso. Também foi instalada uma rampa de acesso na porta principal, promovendo maior acessibilidade, e a parte externa recebeu revestimento em pedras de Iracema. No interior, os adornos em estuque, antes pintados em um tom rosado, passaram a ser cobertos com tinta dourada, conferindo um aspecto mais reluzente ao espaço.

A partir da década de 2020, diversas ações de manutenção e revitalização foram implementadas. A fachada voltou a ter o branco como cor principal, e passou a contar com iluminação artística noturna, valorizando seus contornos e detalhes arquitetônicos. No interior, também foram instaladas luzes cênicas, que destacam as pinturas e os ornamentos, proporcionando uma nova experiência visual aos visitantes, aliado ainda ao salão dos papas, antigo salão paroquial, que recebeu novos desenhos arquitetônicos de muito bom gosto.

As salas de catequese passaram por reformas profundas e foram transformadas em ambientes temáticos, cada uma representando passagens específicas da Bíblia, tornando o espaço mais didático e acolhedor. Além disso, a entrada posterior da catedral também recebeu melhorias: foi construído um novo frontão, alinhado ao estilo arquitetônico do templo, com nichos para imagens sacras e uma nova cobertura, integrando funcionalidade e estética.


Externa em 2015:

Vista da igreja na praça Dom Epaminondas, por volta de 2015.


Capela anexa na catedral (antiga matriz).

Vista frontal, em 2015.

Externa em 2025:



Interna em 2015:


Talha, a única estrutura original no interior na igreja, na época dessa foto ainda não tinha recebido as luzes artísticas.

Afresco no teto do altar.

Nave da catedral.

Afresco no teto da nave 

Um dos vitrais, que por sinal são de fabricação da Casa Conrado.


Estala.

Tribuna lateral

Imagem que hoje se encontra no novo salão dos papas




Capela.


Interior em 2025:








Novo salão dos papas



O Órgão de Tubos da Catedral de Taubaté

Não estamos falando de qualquer instrumento, mas sim do maior órgão de tubos do Vale do Paraíba. Inaugurado em 1963, o órgão é de fabricação nacional, produzido em Novo Hamburgo (RS) pela renomada empresa J. Edmundo Bohn, uma das mais importantes do ramo no Brasil. Este foi, inclusive, um dos últimos órgãos de tubos fabricados pela empresa.

O instrumento impressiona: são 1.700 tubos, que podem ser ativados ou desativados por meio de registros, permitindo uma ampla variedade de combinações sonoras. O órgão possui dois teclados manuais e uma pedaleira, que funciona como um teclado tocado com os pés.

Um detalhe curioso é que, embora os tubos estejam localizados no coro da igreja, o órgão passou por uma reforma em 1994, realizada pela empresa Rigatto & Filhos, que instalou uma segunda consola (o local onde o músico toca), posicionada próxima ao altar. Essa consola comanda remotamente o sistema no coro, permitindo que o som continue saindo dos tubos originais.

O instrumento permaneceu em silêncio por anos, até que, por volta de 2018, voltou a ser utilizado sob a gestão do pároco Pe. Roger Matheus. Desde então, há planos avançados para sua restauração completa, o que promete devolver à catedral não apenas um patrimônio musical, mas também um símbolo de sua grandiosidade litúrgica e cultural.



Veja em detalhes o instrumento.



















Turismo:

A catedral esta localizada no marco zero da cidade, repleta de comércios nas redondezas, permanecendo aberta durante todo o horário, desde as 8h até 17h durante a semana, sendo que aos finais de semana funciona durante os horários de missas. Recomendo sempre checar os meios de comunicação oficial antes de proceder visitas.

Informações extras:


Local: a igreja esta localizada na praça Dom Epaminondas.

Fotos: Todas as fotos recentes usadas nesta postagem são de minha autoria, caso queira usar em outro local peça permissão e coloque os créditos. / Todas fotos antigas foram obtidas através do grupo "Taubaté das Antigas" e do acervo "Mistau".



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